quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Com pitadas de significados diversos




photo by atta
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O PRAZER NO DESCUIDO



Engraçado como determinadas situações tem cores, sabores, cheiros e aspectos próprios. Instantes de prazer que guardamos na memória. E na distração, as lembranças vêm assim, meio que sem propósito, sem aviso prévio. Basta só sentirmos aquela fragrância, ver uma imagem, ouvirmos a frase, identificarmos o sestro ou a música tocar. Pronto. Encantamento feito. Transporte certo e direto para lá, para aquele momento, para aquele lugar, com aquela companhia. São segundos ladinos. Imperceptíveis. Cara de bobo, sorriso matreiro, olhar perdido, reconstrução de um outro tempo. E quando nos damos conta, acabou. O cair em si desfaz a projeção. O corpo perde o arrepio. E o gozo, ah! O gozo!Esse se desmaterializa e volta para o mundo dos pensamentos perdidos. Afinal de contas: “Felicidade se acha em horinhas de descuido”
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O inverno, a extinção ou novas configurações.

Dia desses decidi abandonar as emissoras radiofônicas da galera “cult” e esfregar meus panos de bunda ao som da rádio que sai por ai afora empurrando o primeiro lugar na audiência de Salvador, região metropolitana e recôncavo baiano.

Pois bem, coloquei minha radiola na Piatã Fm. Emissora de rádio que caracterizou-se durante esses últimos 13 anos como a número um do povão. O pagode, a axé music, o samba tradicional, o samba canção, o sertanejo, o forró eletrônico, o arrocha, o funck e algumas músicas românticas, geralmente as que estão fazendo parte das trilhas sonoras das novelas, são os ritmos mais executados na programação e nos eventos produzidos pela rádio.

Nesse dia de lavagem, sintonizada na programação da freqüência 94.7, dei por falta dos pagodões baixaria com letras que violentam a moral e os bons costumes. A bola da vez eram os pagodes das antigas, aqueles lá do fundo do baú, de quando o pagode era mais próximo do samba e suas letras não tinham apelos sexuais, desvalorização do feminino, apologia à violência. Isso em pleno horário nobre, às 13 horas de sábado.

Comecei a observar. Escutar a rádio mais vezes. E vi que o samba canção está ganhando um grande espaço na grade da Piatã, inclusive tendo direito a um programa próprio desse ritmo. O extinto “Bom dia Amizade” agora virou “Bom dia samba”, sendo embalado diariamente por várias bandas cariocas e paulistas como Exaltassamba, Pixote, Pique Novo, Sorrisso Maroto, Revelação e companhia ilimitada.

Nas ruas comecei a observar os camelôs e suas “televisões da fama”. Nesses últimos dias a exibição é basicamente: games, músicas evangélicas, filmes, samba canção, Belo cantando música da Igreja Católica e de vez em quando o Fantasmão (pagodão). Diferente de meses atrás no qual o Psirico, Parangolé, Pagodart, Fantasmão, etc disputavam o disco de diamante de vendas de cópias piratas.

E o arrocha? Alguém tem noticias? Esse ai parece ser uma espécie em extinção. Não tão tendo vez nem nas TVs do camelódromo da Lapa.

Concernente a isso, as festas de camisas coloridas com 12 de horas de pagode e ou arrocha estão em fase de hibernação. Uma aqui, outra ali, mas nada que abale as estruturas do Parque de Exposições, Wet’n Wild, Codeba, nem da casa de show daquele moço que foi acusado de tráfico de drogas.

Talvez tudo isso que citei seja coisa da minha cabeça, um movimento natural, quem sabe baixa produtividade, já que estamos no inverno e esse gênero costuma explodir no verão. Mas também pode ser uma nova dinâmica, pautada na forma sulista do Brasil de tratar e disseminar esse tipo de produção.

A verdade é: eu não fiz uma pesquisa. Tudo aqui está no campo do achismo. Melhor dizendo, é uma análise sem propósito a partir de uma percepção.

Mas fica a dúvida: Será que o pagode ta esperando o calor do verão pra aquecer a massa ou é uma transformação musical?