quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Da série: Minha irmã fala e eu escrevo.


Doença da mente

Minha irmã é realmente uma caixinha de surpresas. E quando uso esse termo para intitulá-la lembro da boneca Emilia que apesar de dizerem que ela é uma "tornerinha de asneiras" é quem tem a melhores idéias e soluciona os problemas em que a turma do Sitio do Pica Pau Amarelo sempre se mete. Isso porque ela consegue fazer correlações incríveis, inimagináveis por mortais comuns. Claro, depois que ela soluciona todos caem em si e as coisas ficam obvias. Vem inclusive aquele sentimento - Por que não fui eu que pensei nisso?

Pois bem, estou eu na casa florida de minha irmã tomando umas cervejas e jogando conversa fora. Lá pras tantas surge a história de alguém que está enfermo. Quem é mesmo eu não sei, só sei que vai caber no texto.

O papo ta rolando e minha irmã começa a falar algo que a primeira vista me pareceu descontextualizado: quando somos crianças e nos ferimos com algum objeto a mãe cuida do ferimento e para nos acalmar fala que o tal objeto é feio, simula umas tapinhas nele, e sara o psicológico que também se feriu. Quando crescemos essa cura psicológica nos é negada. Adulto não tem o direito de ficar abalado. Logo chega um e fala: - Oxe!! Deixe de armar, uma besteira dessa.

Nem morder parede em paz as pessoas podem.

Com tudo o processo de cura é dificultado. É necessário amor interno, um querer bem a si mesmo, e amor externo: amigos, famílias, companheiros, unidos, dando uma força.

A pior parte é compreender que isso é uma doença da psique e que um tratamento terapêutico é necessário. O problema ta é ai. Burlar o preconceito, enraizado pela ignorância, a cerca dos tratamentos psicológicos. Há aqueles que recebem de bom grado o conselho de procurar um médico especializado. Porém, o contrário também existe. E de bocado! As pessoas se ofendem, questionam se estamos chamando-as de loucos (as), malucas (os). Falam que essas coisas de hipnose, terapia, etc mechem com a cabeça. E me conte: o que nessa vida não meche com a cabeça?

Existem doenças mentais de vários tipos, em vários níveis. O cérebro é uma máquina incrível. E como toda máquina dá pau. Sendo necessário algumas vezes resetar e ou mandar para o conserto.

A manutenção ajuda deixar a psique em ordem e essa pode ser feita de várias formas, seja através de acompanhamento especializado, criando alternativas de afazeres conhecidos no senso comum de higiene mental, esmurrando as almofadas, cantando no banheiro, praticando novas e velhas experiências sexuais, mandando o povo tomar no cú, etc.

Enfim, cada um tem sua fórmula mágica pra não surtar. E antes de sair por ai condenando aqueles que, apesar de todas as formas de manutenção mental existentes, não conseguem se livrar do surto, temos que entender que todos nós somos suscetíveis a isso. Vitoriosos são aqueles que conseguem superar, voltar a agir de acordo com as regras sociais e compreender que ele não é um ser inferior aos demais indivíduos.

Agora, uma enfermidade mais grave, a qual deve ser dada uma atenção maior, é a doença do mundo. Está virando coisa comum adulto estuprar criança, pai matar filho, filho matar pai, a miséria, a mendicância, o furto e demais violências contra o que é vivo. Quando falo que é comum tomo como base o olhar infantil para essas coisas. Na minha época de criança, pra mim era inconcebível uma pessoa morar na rua. Como podia? Onde ela dormia? O que ela comia? Acredito que devo ter deixado por vezes minhae de sai justa pra responder essas perguntas. Mas agora, são poucas as crianças que não tem um reagir condicionado ao cotidiano.

Bom, mas isso é papo para um outro texto.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Com pitadas de significados diversos




photo by atta
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O PRAZER NO DESCUIDO



Engraçado como determinadas situações tem cores, sabores, cheiros e aspectos próprios. Instantes de prazer que guardamos na memória. E na distração, as lembranças vêm assim, meio que sem propósito, sem aviso prévio. Basta só sentirmos aquela fragrância, ver uma imagem, ouvirmos a frase, identificarmos o sestro ou a música tocar. Pronto. Encantamento feito. Transporte certo e direto para lá, para aquele momento, para aquele lugar, com aquela companhia. São segundos ladinos. Imperceptíveis. Cara de bobo, sorriso matreiro, olhar perdido, reconstrução de um outro tempo. E quando nos damos conta, acabou. O cair em si desfaz a projeção. O corpo perde o arrepio. E o gozo, ah! O gozo!Esse se desmaterializa e volta para o mundo dos pensamentos perdidos. Afinal de contas: “Felicidade se acha em horinhas de descuido”
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O inverno, a extinção ou novas configurações.

Dia desses decidi abandonar as emissoras radiofônicas da galera “cult” e esfregar meus panos de bunda ao som da rádio que sai por ai afora empurrando o primeiro lugar na audiência de Salvador, região metropolitana e recôncavo baiano.

Pois bem, coloquei minha radiola na Piatã Fm. Emissora de rádio que caracterizou-se durante esses últimos 13 anos como a número um do povão. O pagode, a axé music, o samba tradicional, o samba canção, o sertanejo, o forró eletrônico, o arrocha, o funck e algumas músicas românticas, geralmente as que estão fazendo parte das trilhas sonoras das novelas, são os ritmos mais executados na programação e nos eventos produzidos pela rádio.

Nesse dia de lavagem, sintonizada na programação da freqüência 94.7, dei por falta dos pagodões baixaria com letras que violentam a moral e os bons costumes. A bola da vez eram os pagodes das antigas, aqueles lá do fundo do baú, de quando o pagode era mais próximo do samba e suas letras não tinham apelos sexuais, desvalorização do feminino, apologia à violência. Isso em pleno horário nobre, às 13 horas de sábado.

Comecei a observar. Escutar a rádio mais vezes. E vi que o samba canção está ganhando um grande espaço na grade da Piatã, inclusive tendo direito a um programa próprio desse ritmo. O extinto “Bom dia Amizade” agora virou “Bom dia samba”, sendo embalado diariamente por várias bandas cariocas e paulistas como Exaltassamba, Pixote, Pique Novo, Sorrisso Maroto, Revelação e companhia ilimitada.

Nas ruas comecei a observar os camelôs e suas “televisões da fama”. Nesses últimos dias a exibição é basicamente: games, músicas evangélicas, filmes, samba canção, Belo cantando música da Igreja Católica e de vez em quando o Fantasmão (pagodão). Diferente de meses atrás no qual o Psirico, Parangolé, Pagodart, Fantasmão, etc disputavam o disco de diamante de vendas de cópias piratas.

E o arrocha? Alguém tem noticias? Esse ai parece ser uma espécie em extinção. Não tão tendo vez nem nas TVs do camelódromo da Lapa.

Concernente a isso, as festas de camisas coloridas com 12 de horas de pagode e ou arrocha estão em fase de hibernação. Uma aqui, outra ali, mas nada que abale as estruturas do Parque de Exposições, Wet’n Wild, Codeba, nem da casa de show daquele moço que foi acusado de tráfico de drogas.

Talvez tudo isso que citei seja coisa da minha cabeça, um movimento natural, quem sabe baixa produtividade, já que estamos no inverno e esse gênero costuma explodir no verão. Mas também pode ser uma nova dinâmica, pautada na forma sulista do Brasil de tratar e disseminar esse tipo de produção.

A verdade é: eu não fiz uma pesquisa. Tudo aqui está no campo do achismo. Melhor dizendo, é uma análise sem propósito a partir de uma percepção.

Mas fica a dúvida: Será que o pagode ta esperando o calor do verão pra aquecer a massa ou é uma transformação musical?

quinta-feira, 29 de maio de 2008

foto: atta
"Moço cuidado com ela há que se ter cautela com essa gente que menstrua"



segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sozinha no mundo de muitos (parte I)

Sempre foi sozinha a shows, bares, cinema, café e principalmente ao banheiro. Porém, naquela noite fora acometida pela doença do "Muitos e Nenhum". Lembrou já ter sentido aquilo tempos atrás num bazar multicultural daqueles com musicas, vídeos e muitas coisas para gastar o dinheiro que não se tem. Nessa época, havia findado o único namoro que teve na vida. Em meio a tensões vestibulandas ela fazia free lancer de fotógrafa. Pegava alguns trabalhos ruins, mas, que pagavam suas contas.

O que a fez girar em torno de si naquele momento? Seu métier estava em sua frente e mesmo assim sentia-se entre muitos e nenhum ao mesmo tempo. Eles eram apenas presas fáceis para um bom lobby. Olhando aquelas pessoas uma dor e uma sensação de vazio lhe arrebatou. Embora tentasse não conseguia que sua fala fosse admitida em rodas de bate-papo como aquela onde as relações de poder legitimam vozes e só. Essa constatação lhe afastava ainda mais dali.

Decidiu então fazer a escolha que segundo ela era a mais acertada: fecha-se em si mesma. Ainda assim a dor não passou e como virose estendeu-se pela semana inteira. Na febre questionou amizades, familiares e sua própria vida. Não parou de indagar, reviu contratos sociais, investimentos amorosos e constatou que ter poder é depender de falas e posturas.

O que era uma simples aflição agora se torna uma reflexão em cadeia. Tudo que construiu para manter-se longe de problemas externos eram apenas teorias que funcionaram em alguns momentos, uma espécie de placebo é desmascarado pela necessidade de crescimento e de entendimento das relações políticas. O mundo agora lhe exige respostas mais maduras.

Sem entender ela é empurrada para uma hermenêutica imensurável. Talvez seja hora de ser aquilo que é em essência, não o que todos querem que seja. É hora de afinar as identidades.

sexta-feira, 9 de maio de 2008




Dentro ou fora de mim



A palavra casa detém em si um léxico próprio. Tomemos a aqui como abrigo. Seja ele material físico, espiritual, corpo e ou construção.
Abrigo do Sagrado, dos desejos, dos rituais, das recordações, das intimidades...
É para dentro dele que desejamos voltar com todas as sensações do cotidiano e canaliza-las para seus devidos recipientes.
Quando nos deparamos com o vazio desse abrigo, com a falta dos objetos que nos legitimam e descrevem nossa personalidade somos tomados por um desespero que põe em conflito o ser interno e o ser social presente na identidade humana.
É nesse conflito que se desenrola a história da maquiladora Renata Maria vivida pela atriz Mariana Freire no monólogo teatral Casa Número Nada.
Diante do vazio de sua casa Renata tenta entender o infortúnio de ter sido roubada. Ao buscar os porquês, através dos poucos objetos que ficaram espalhados pelo chão, ela se envolve em questionamentos maiores ligados a existência, a conduta, valores e crenças, aflorando assim o sentimento de medo, a memória e seus preconceitos.
Tudo isso contado em uma excelente performance da atriz que defende um teatro onde o corpo tem maior expressividade.

Casa Número Nada
interprete Mariana Freire* direção Fábio Vidal * roteiro Mariana Freire e Fábio Vidal * iluminação Fábio Espírito Santo [querido Sprite] * concepção cenográfica Mariana Freire * direção musical Luciano Bahia * figurino, maquiagem e adereços Rino Carvalho * produção Mariana Serrão * fotografia Zélia Uchoa * programação visual Paulo Heber * assessoria de imprensa Juliana Protásio * operador de luz Alexandre Moreira * operador de som Mariana Serrão*.



foto bia braz